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Dia do Professor

Professor. Tão nobre profissão, que com os anos passou a ser frequentemente desvalorizada pela nossa sociedade. E hoje assistimos todos os dias nos jornais notícias que envolvem estes mestres do saber. São notícias de ameaças, intimidações, greves, professores desestimulados, agressões verbais ou mesmo físicas.

A curiosidade do que acontece e como é a rotina de um professor foi surgindo diante de tantas notícias. Curiosidade que levou a vivência de um dia desse profissional, na Escola Municipal Professor Paulo Freire, ao lado de uma professora de História, que trabalha há três anos na instituição, ministra aula para cinco turmas por dia, uma média de 170 alunos, Camila Pires. Uma bela professora e muito vaidosa, com um lenço de onça amarado ao pescoço, anéis, pulseiras, cabelo solto.

Ao encontrar Camila, ela já avisa que hoje o dia vai ser cheio. Ela diz isso, porque ao chegar recebeu a notícia de que, no primeiro horário, terá que se dividir ministrando aula para duas turmas de 7° ano. “Hoje o dia vai ser cansativo”, afirma ela.

Quando entra na primeira sala, os alunos ainda estão se arrumando. As salas são todas iguais, com uns cinco metros quadrados, pintadas de branco e verde, carteiras de madeira e imensas janelas, que completam uma parede inteira. Ao chegar à sala ela cumprimenta os alunos, poucos respondem, pois o barulho é intenso. Na tentativa de acalmar ou pelo menos diminuir o ritmo dos estudantes, ela passa uma atividade do livro didático, em grupo, e sai para a outra sala.

Ao entrar na outra turma, onde os alunos, que já comemoravam a aula vaga, ficam decepcionados com a chegada da professora. Camila passa a mesma atividade, anda de um lado para o outro tentando da assistência aos estudantes. Foram cinquenta minutos divididos entre duas salas, entre idas e vindas por um corredor: tentando controlar a agitação e atendendo os questionamentos dos alunos sobre o conteúdo do exercício, ou pelos menos, dos poucos alunos que realmente se interessaram em fazer.

O tempo foi passado e o vai e vem da professora não para, nessa correria Camila conta que essa situação não é tão incomum, e que sempre que falta um professor, outro tem a tarefa de dividir sua aula em duas turmas ao mesmo tempo, para que os estudantes não sejam mais prejudicados e tenham que voltar pra casa sem aula.

Ao fim do primeiro horário, a professora afirma aliviada. “Enfim aula em apenas uma turma por vez”. A aula agora é no sexto ano, a atividade é a correção de uma atividade para casa com apenas três questões, mas nenhum aluno fez, o que não é surpresa para a professora, que culpa essa falta de comprometimento dos alunos com as atividades propostas em sala, aos pais. “Os pais hoje em dia não se interessam mais em saber o que se passa na vida escolar do filho, não se envolvem, e passaram a obrigação da educação doméstica, antes da família totalmente para a escola”, afirma.

Como ninguém fez à atividade ela “corrigiu” as questões e todos apenas copiaram as respostas apresentada por ela, sem questionarem nada, apenas copiaram.

Depois ela propõe outro exercício para os estudantes, desta vez em sala, porém a dispersão é total e quase ninguém faz as questões. Durante uma das idas e vindas pela sala, ela faz um carinho em um aluno, ao perguntada sobre o gesto, ela afirma, “não tem como não se apegar a eles, apesar de todos os empecilhos”.

É quase hora do intervalo e os alunos estão eufóricos para saírem da aula, e a professora tenta controlá-los fechando a porta e passando de carteira em carteira, mas não tem jeito, a aula acaba e apenas três alunos, dos 35 em sala, entregaram a atividade. “Isso é uma rotina”, afirma Camila.

Após o intervalo, ela se encaminha para a turma onde ministrará suas duas ultimas aulas do dia. Ao chegar à sala, poucos alunos a esperam, pois a maioria ignorou o toque que anuncia o fim do intervalo. Aos pouco, a sala começa a encher. A atividade dessa turma é a mesma da anterior, corrigir o exercício e fazer outras questões. O que na outra turma foi difícil, nessa parece quase tarefa impossível para a professora de história.

Logo nos primeiros trinta minutos de aula, dois alunos já começam a brigar, com socos e pontapés, no meio da sala. Desta vez ela sai da sala, visivelmente irritada e decepcionada, para chamar dois coordenadores para separarem a briga e levá-los para a diretoria.

O clima é tenso, a professora explica a situação aos coordenadores e os alunos brigões são levados. Depois de resolvido esse primeiro problema, ela tenta fazer a chamada, mas o barulho é tão intenso, que pouco se ouve da voz da professora. E assim segue o resto da aula, a professora anda de um lado para o outro na tentativa de controlar os alunos, que ficam mais fora da sala do que dentro, e não fazem o exercício.

A aula vai chegando ao final e agora a professora passa a ser a porteira da sala, para tentar impedir a saída dos alunos, que agora tentam atrapalhar a aula de outra turma. Chega ao fim a aula, a professora sai da porta e vai arruma suas coisas para ir embora. Já na sala dos professores, pega seu capacete rosa e vai saindo. “A rotina de aula acabou por hoje, mas o trabalho de um professor não termina junto com a aula”, conclui a professora.

 

Saádia Prates

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