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Educação: Seis em cada dez baianos não concluíram os estudos

Por Mario Bitencourt

A vendedora de caldo de cana Silvana de Oliveira Silva, 38, moradora de Vitória da Conquista, Sudoeste da Bahia, não sabe o que é um livro desde os 16 anos, quando abandonou a escola no 1º ano do ensino médio, que já estava sendo repetido. “Tive de abandonar para ajudar meu pai no trabalho da feira. Minha mãe faleceu e ficou pesado só para ele, o jeito foi eu vir”, conta ela, cujos pais, segundo informou, fizeram apenas a alfabetização.

Na feira, Silvana conheceu Josenilton Lima da Silva, 42, na época vendedor de cana e hoje de pastéis, sonhos e refrescos. Nascido e criado na zona rural de Anagé, cidade vizinha, ele largou a escola na 5ª série porque, segundo disse, nunca gostou de livros.

O casal está entre os 60% dos baianos com 25 anos ou mais que não têm o ensino médio, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no módulo Educação, com dados de 2016 e 2017.

De acordo com a analista de informações do IBGE Mariana Viveiros, a pesquisa revela uma realidade brasileira em que, a partir dos 15 anos, os jovens começam a deixar de estudar, antes mesmo de chegar no ensino médio. “Começa a ter uma evasão da escola, seja para trabalhar ou seja porque começa a repetir, e se desinteressam pelos estudos. Tem sempre dois lados, a escola que não consegue manter e atrair os alunos, e o outro lado é que muitas pessoas deixam de estudar porque precisam trabalhar”, aponta.

Na Bahia, em 2017, pouco menos de quatro em cada dez  pessoas de 25 anos ou mais de idade (38,5% ou  3,6 milhões em números absolutos) tinham ao menos o ensino médio concluído.

Uma delas é Alice Souza, 27, vendedora numa livraria de um shopping no bairro da Pituba, em Salvador. Ela trancou a faculdade de Letras na Universidade Federal da Bahia (Ufba) em novembro do ano passado.

O motivo do abandono foi que ela não conseguiu conciliar o trabalho com os estudos, pois entra no serviço às 13h40 e sai às 22h, sendo que tinha aulas pela tarde. “Estou querendo ver outra oportunidade que me dê condições de conciliar meu trabalho com os estudos, estou tendo dificuldade”, disse ela, que sonha em trabalhar como corretora de textos.

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Foto: Arte / Correio da Bahia

Ainda segundo a pesquisa do IBGE, 14,5% da população de 25 anos ou mais de idade na Bahia (1,358 milhão de pessoas, em números absolutos) não tinham instrução, ou seja, não haviam cursado sequer um ano do ensino formal.

Era o segundo maior percentual de pessoas sem instrução no país, empatado com o Ceará e abaixo apenas de Maranhão e Alagoas, ambos com 17,8%. No Brasil, em 2017, o percentual de pessoas sem instrução era a metade do baiano (7,2% frente a 7,8% em 2016).

Sem alteração
O contingente dos sem instrução no estado praticamente não se alterou em relação a 2016, quando representava 14,6% da população de 25 anos ou mais, se reduzindo em apenas 471 pessoas de um ano para o outro.

A pesquisa mostra que o percentual de adultos sem instrução na Bahia é maior entre os homens (15,0%, frente a 14,1% das mulheres) e entre os pretos ou pardos (14,8% frente a 13,6% dos brancos), e que  um em cada dez  baianos (9,8% ou 918,5 mil pessoas) tinha nível superior – quarto menor percentual do país.

Ambos os percentuais tiveram aumentos bem discretos em relação a 2016, quando eram 38,1% (mais 60.719 pessoas em um ano) e 9,2% (mais 61.844 pessoas em um ano), respectivamente.

Continuavam, entretanto, distantes da média nacional. No Brasil, 46,1% das pessoas de 25 anos ou mais de idade tinham ao menos o ensino médio concluído e 15,7% tinham nível superior completo em 2017.

Há desigualdades importantes nesses indicadores, que favorecem as mulheres, por um lado, e as pessoas de cor branca, por outro. Na Bahia, em 2017, 42,9% das mulheres tinham ao menos a educação básica, enquanto 12,0% tinham curso superior.

Para os homens, esses percentuais eram, respectivamente, de 33,8% e 7,4%. O percentual de pessoas brancas com ensino básico completo (46,3%) era quase igual à média geral do país, e 17,6% dos brancos tinham ensino superior.

Já entre as pessoas negras (pretas ou pardas), 36,9% tinham a educação básica e 8,1% haviam concluído a universidade.

Educação e mercado
Marina Águas, analista do IBGE e coordenadora da pesquisa, destaca que a taxa de analfabetismo na Bahia reduziu de 13% para 12,7%, mas que 36,1% das pessoas com 60 anos ou mais são analfabetas.

“A Bahia ainda está bem acima da média intermediária [na taxa de analfabetismo] do Plano Nacional de Educação, que é de 6,5%. A meta final do plano para 2024 é erradicar o analfabetismo”, comentou.

A analista do IBGE observou que o Nordeste está com percentual mais elevado de analfabetismo e que “a Bahia condiz com o Nordeste em geral”. No geral, para Marina Águas, “o momento educacional é importante para o mercado de trabalho no Brasil”, pois “teve melhoria no nível de estudo”.

O superintendente de Políticas para a Educação Básica, da Secretaria de Educação da Bahia, professor Ney Campello, ao avaliar os dados do IBGE, ressalvou que eles trazem números da rede pública e privada, enumerando, em seguida, ações estaduais.

Para adultos que não concluíram o ensino médio, por exemplo, o governo desenvolve na Bahia o projeto Centros Noturnos de Educação Básica (CNEB), aliado ao programa de Educação de Jovens e Adultos, de responsabilidade também das prefeituras.

O estado, segundo Campello, tem melhorado a oferta de vagas nos cursos do ensino médio integrados com a educação profissional. Atualmente, são 112 mil vagas disponíveis na Bahia, mas este ano foram preenchidas 80 mil.

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