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Um mês após prisão de padrasto por estupro, jovem fala sobre segurança: ‘Minhas dores vão sarar feridas de outras meninas’

“Os exemplos das minhas dores vão ajudar a sarar as feridas de outras meninas”. A declaração de Eva Luana reflete os caminhos que a estudante de 21 anos tem tomado para se libertar dos medos que ainda sente, depois de ter passado nove anos sendo abusada pelo padrasto.

Denunciado por cerca de 10 crimes, entre eles estupro e tortura, Thiago Oliveira Alves completa um mês preso nesta quarta-feira (13). Ele está no Centro de Observação Penal de Salvador (COP), que fica no Complexo Penitenciário da Mata Escura.

“Parece que o tempo passa rápido, mas tenho vivido um dia de cada vez. Depois de um mês, eu estou me sentindo um pouco mais segura do que antes. A agonia no coração, o caos interior por conta do trauma passou. Nesse mês, participei de alguns eventos em homenagem às mulheres. É tudo muito novo para mim”, contou Eva.

“Estou tendo um pouco mais de liberdade, fazendo coisas que nunca fiz antes, como ir à praia”

Na terça-feira (12), Eva contou ao G1 que começou a dormir tranquilamente e sem acordar de noite, há cerca de uma semana.

“Tenho estado mais tranquila, me sentindo segura. Mesmo depois que ele foi preso, eu ainda tinha um pouco de dificuldade de dormir, mas há uns sete dias dormindo direito, tenho conseguido ter um sono pesado, sem medo”, destacou a estudante.

Eva Luana — Foto: Reprodução/Instagram

Eva Luana — Foto: Reprodução/Instagram

Aos poucos, Eva tem voltado a fazer tarefas do dia-a-dia, mas revela que ainda tem medo de voltar para a faculdade e manter uma rotina.

“Eu vou fazer faculdade domiciliar, porque não tenho condição de voltar a estudar [em uma unidade física]. Eu fico com medo de estar sempre em um lugar onde as pessoas podem saber onde eu estou, onde tem uma rotina, porque eu tenho medo dele [padrasto] ter contatos aqui fora [da prisão] e alguém me fazer mal. Fora isso, tem as pessoas tirando foto o tempo inteiro”, pondera.

Além do acompanhamento psicológico, a jovem também tem recebido assistência ginecológica, por conta dos vários abortos forçados que fez, induzida e agredida por Thiago, desde que tinha 12 anos. Sobre a movimentação do processo contra ele, Eva Luana disse que prefere não acompanhar para resguardar a própria saúde mental.

“Busco não acompanhar porque eu fico muito nervosa. O advogado que está mais perto de mim sempre me pergunta se eu quero saber a movimentação. Eu evito me envolver no processo, porque vejo que ele está tentado sair da cadeia e isso me faz mal. Eu faço a minha parte, presto depoimento, mas não quero me envolver”, pontuou.

“Não adianta eu ir no psicólogo, trabalhar essa cura e olhar o processo. Não acompanho porque é uma forma de resguardar meu psicológico”

A estudante revelou ainda que depois do relato tem recebido mensagens diárias de meninas que encontraram, na história dela, força para denunciar seus abusadores.

“Eu vi depoimentos de mulheres que tinham coragem de denunciar, e me perguntei se eu não podia fazer isso. Quando vi que tomou essa proporção, fiquei assustada. Queria apagar [a publicação nas redes sociais], fiquei com vergonha. Depois de respirar fundo e ver com os psicólogos, eu mantive”.

“Depois que eu fiz isso, na minha faculdade três garotas denunciaram abusos também. Então, eu percebi o quanto era importante denunciar e visibilizar. O apoio que eu não tive, eu luto para que elas tenham. Tenho respondido 100 meninas por dia, para tentar ajudar cada uma delas”

Com relação às mensagens que recebeu e tem recebido, Eva resume em uma palavra: gratidão.

“É a única palavra que eu posso dizer em relação a tudo isso que tem acontecido. Sou grata a todas as mensagens que recebi, de meninas, de anônimos, de artistas. A onda de amor que me enviam é uma cadeia de solidariedade infinita e eu sou muito grata”.

Para outras jovens, meninas e mulheres que também foram e são vítimas de estupro e outros tipos de abuso, Eva Luana fez questão de deixar uma mensagem:

“Continuem lutando. A gente sente medo e fica aprisionada. Passar por isso pode parecer impossível, mas nós pedirmos ajuda, a gente consegue sair disso. Fale para pelo menos duas pessoas, busque ajuda. Não denuncie sozinha, porque você corre o risco de desistir. Chame alguém da família, amigo ou um desconhecido, alguém que possa te dar atenção e procure a delegacia”.

“Nós nascemos para ser livres e merecemos isso. Se a gente ficar parada e guardar nossas dores, elas vão nos destruir por dentro. Denuncie sempre. Brilhe e voe, porque você merece viver”

Caso

No dia 19 de fevereiro deste ano, o drama vivido pela jovem Eva Luana da Silva chocou o país após a garota relatar o caso nas redes sociais. O caso já havia sido registrado na polícia e o suspeito estava preso, quando Eva revelou os episódios de abuso e tortura sofridos por ela e a mãe, durante quase 10 anos. “Tinha vezes que chegava a ser estuprada duas vezes no dia”, disse.

Como resultado dos estupros cometidos pelo padrasto desde que ela tinha 12 anos, a jovem disse que fez vários abortos. “Foram quatro ou cinco vezes”, lembra.

Eva relatou em cinco posts no Instagram toda a violência pela qual foi submetida dentro da própria casa. Ela contou que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou a ser alvo dele também. Artistas como Kéfera e Alice Wegmann compartilharam as postagens da estudante.

A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, que apura o crime, confirmou que a jovem prestou depoimento no dia 30 de janeiro. A mãe dela também falou com a polícia e confirmou as denúncias da filha.

No dia 31 de janeiro, após Eva ter feito a denúncia, a Justiça concedeu uma medida protetiva para que Thiago não se aproximasse dela e nem da mãe e da irmã. O homem, então, foi obrigado a sair de casa e alugar um imóvel para morar.

Ela conta, no entanto, que, antes de ser preso, ele descumpriu a medida que o obrigava a ficar distante das vítimas por no mínimo, 300 metros. A jovem disse que ele foi até a casa dela e destruiu provas, antes do cumprimento de um mandado de busca e apreensão.

Eva, que já tinha prestado uma queixa contra o padrasto quando tinha 13 anos e que foi obrigada a retirar por conta de ameaças do suspeito, diz que ainda confia na Justiça. “Acredito totalmente e creio que ele pagará por tudo. Também tenho orgulho das pessoas que estão comigo, me ajudando”, diz.

Após a denúncia, Thiago Oliveira Alves, que é natural de São Paulo, foi exonerado do cargo de assessor técnico da prefeitura da cidade. Ele era lotado na Secretaria de Serviços Públicos (Sesp). A prefeitura divulgou nota de repúdio a Thiago no dia 20 de fevereiro.

Ele já tinha deixado o cargo desde 1º de fevereiro, dois dias depois da enteada ter denunciado o caso à Polícia Civil, mas a oficialização da exoneração no Diário pela prefeitura só saiu 20 dias depois.

Fonte: G1 Bahia

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