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Educação: A importância do professor na formação de leitores críticos no meio social

Por Ravanildo Oliveira, Vilma Teles e Rodrigo Cardoso

Ravanildo Oliveira Matos¹  Graduado em Serviço Social UNOPAR-Universidade Norte Do Paraná  de Vitória da Conquista – BA. Artigo apresentado Lato Sensu em Gestão em Política  Educacional , Diversidade Cultural e Controle Social, Faculdade Hélio Rocha,  Vitória da Conquista – BA. 2017.1.

Vilma Teles Oliveira 2 Graduado em Serviço Social UNOPAR-Universidade Norte Do Paraná  de Vitória da Conquista – BA. Artigo apresentado Lato Sensu em Gestão em Política  Educacional , Diversidade Cultural e Controle Social, Faculdade Hélio Rocha,  Vitória da Conquista – BA. 2017.1.

Rodrigo Cardoso da Silva3 Graduado em enfermagem FTC  de Vitória da Conquista – BA. Artigo apresentado Lato Sensu em Gestão em Política  Educacional , Diversidade Cultural e Controle Social, Faculdade Hélio Rocha,  Vitória da Conquista – BA. 2017.1.

RESUMO: O desenvolvimento do hábito da leitura é de suma importância na vida do aluno, sendo ela peça fundamental para a construção de seres críticos e atentos ao processo de globalização e mudanças pertinentes na sociedade. A dificuldade de desenvolver uma leitura crítica e coesa interfere no processo de construção de conhecimentos. Portanto, a presente pesquisa, de cunho bibliográfico, tem como objetivo central refletir sobre a formação de leitores críticos dentro da sociedade, destacando o papel do professor como peça fundamental desse processo. Busca, ainda, evidenciar o lugar ocupado pela instituição escolar no incentivo ao desenvolvimento de leitores críticos e enfatizar a relevância de um planejamento que leve em consideração as necessidades do educando a fim de facilitar o processo de formação de leitores. Como respaldo teórico, este trabalho está baseado nas considerações de Schneider (1990), Libâneo (2002), Gadotti (1998), Lajolo (1991), dentre outros autores que abordam a temática da leitura e da formação de leitores críticos.

PALAVRAS-CHAVE: Prática de leitura; Professor; Cidadão crítico.

ABSTRACT: Developing the habit of reading is of paramount importance in the student’s life, and this habit is fundamental to building critical beings who are aware of the globalization process and relevant changes in society. The difficulty of developing a cohesive and critical reading interferes with the process of building knowledge. Therefore, the present study, which has bibliographic nature, is mainly aimed to reflect on the formation of critical readers in society, emphasizing the teacher’s role as a key player in this process. This research also highlights the role played by the academic institution in encouraging the development of critical readers and emphasizes the importance of a kind of planning that takes into account the student’s needs in order to facilitate the process of readers’ formation. As theoretical support, this work is based on considerations of Schneider (1990), Libâneo (2002), Gadotti (1998), Lajolo (1991), among other authors that deal with the theme of reading and formation of critical readers.

KEYWORDS: Reading practice; Teacher; Critical citizen

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A prática da leitura é uma constante na vida do ser humano. Ela se faz presente nas mais diversificadas maneiras. Uma ação bastante complexa e abrangente, que ultrapassa a simples decodificação das palavras, como afirma Schneider (1990, p.16):

Soletrar, decodificar palavras ou frases não chega a ser leitura, se esse processo de decodificação não for acompanhado da compreensão do significado veiculado por meio de elementos ou estruturas linguísticas. A leitura vai muito mais além. Trata de um processo ativo de construção de sentidos que envolve fatores linguísticos e extralinguísticos e possibilita uma interação e troca de informações entre o leitor e as características pertencentes ao texto, que resulta na compreensão efetiva e ampla do texto.

Um problema constante e bastante pertinente no processo de ensino e aprendizagem é a dificuldade que os alunos têm de ler e compreender a pluralidade de sentidos presentes no texto e desenvolver um trabalho ativo de compreensão e interpretação. 

Diante da problemática em questão, este trabalho tem por objetivo refletir sobre a importância de leitores críticos na atual sociedade, destacando o profissional da educação como fomentador deste aprimoramento e qualidade dos alunos.

As instituições de ensino precisam criar metas e objetivos para diminuir a dificuldade que os educandos têm de ler e compreender criticamente os contextos e situações do que é lido. Nesse momento, é de suma importância que as instituições escolares e o educador, peça fundamental para transformação, assumam a responsabilidade e o compromisso de se organizar em torno de um projeto pedagógico educativo comprometido e eficiente, de maneira que seja desenvolvido um trabalho voltado para a formação de alunos que sejam capazes de exercer sua cidadania, compreendendo criticamente as realidades sociais e interagindo nas diversas situações comunicativas, deixando de ser um sujeito passivo, que só reage frente às pressões do meio, e tornando-se um sujeito que realiza uma atividade organizadora na sua interação com o mundo. A respeito dessa responsabilidade do educardo, Libâneo (2010, p. 31) afirma:

Está embutida aí a ajuda do professor para o desenvolvimento das competências do pensar, em função do que coloca problemas, pergunta, dialoga, ouve os alunos, ensina-os a argumentar, abre espaço para expressarem seus pensamentos, sentimentos, desejos, de modo que tragam para a aula sua realidade vivida. (…).

Diante disso, a presente pesquisa se apresenta através de cunho bibliográfico, com o objetivo central de refletir sobre a formação de leitores críticos dentro da sociedade, destacando o papel do professor como peça fundamental desse processo. Este trabalho busca, ainda, evidenciar o lugar ocupado pela instituição escolar no incentivo ao desenvolvimento de leitores críticos e enfatizar a relevância de um planejamento que leve em consideração as necessidades do educando a fim de facilitar o processo de formação de leitores.

Este trabalho está estruturado em cinco partes. Primeiramente, apresenta-se uma visão geral sobre a realidade brasileira no que tange às práticas de leitura e escrita; em seguida, são expostas  algumas concepções de leitura; a terceira seção deste artigo trata do espaço escolar como lugar propício ao desenvolvimento do leitor crítico; a quarta seção reflete sobre o papel do educador como agente de transformação da sociedade e, por fim, destaca-se a importância de um planejamento flexível e voltado para a realidade do educando .

 

1 PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA: A REALIDADE BRASILEIRA

O Brasil já esteve entre os países com os piores índices de analfabetismo, tendo milhões de analfabetos acima dos 15 anos de idade. No processo de alfabetização, o analfabeto é visto com uma visão preconceituosa, sendo marginalizado e considerado menos capaz que um indivíduo alfabetizado.

Segundo pesquisas do Ministério da Educação, atualmente, são 16 milhões de analfabetos no Brasil, pessoas que não conseguem sequer escrever um bilhete. Já os que não chegaram a concluir a 4ª série do ensino fundamental I, somam 33 milhões, concentrados em 50% no norte e nordeste do país. Dessa forma, pode-se questionar: Como acontecerá o crescimento social e econômico do país se não há uma política educacional eficiente?

  Segundo estudo de 2013 realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), 73% dos brasileiros quer uma educação de qualidade, evidenciando assim a importância da educação na contemporaneidade. O que antes não era visto como prioridade pela população e governo hoje é de suma importância para a sociedade.

Ainda em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 2007 a 2013 foi mantida a tendência de declínio das taxas de analfabetismo e de crescimento da taxa de escolarização do grupo etário de 6 a 14 anos e do nível de educação da população. O diferencial por sexo persistiu em favor da população feminina.  O nível de instrução cresceu de 2007 para 2013, sendo que o grupo de pessoas com pelo menos 11 anos de estudo, na população de 25 anos ou mais de idade, passou de 33,6% para 41,8%. O nível de instrução feminino manteve-se mais elevado que o masculino.

Em 2013, no contingente de 25 anos ou mais de idade, a parcela com pelo menos 11 anos de estudo representava 39,6%, para os homens e 43,7%, para as mulheres.

Apesar da melhora dos índices de analfabetismo no país, não se pode negar que há milhares de indivíduos considerados “alfabetizados”, mas que não conseguem interpretar sequer uma mensagem, o que evidencia o fato de que saber decodificar signos linguísticos não implica, necessariamente, em saber ler e escrever. Essa dificuldade de interpretação e de produção de textos é um dos fatores que mais promovem desmotivação nos alunos, que se sentem incapazes  e, muitas vezes, desistem de continuar na jornada escolar, afastando-se da instituição de ensino por pura falta de motivação decorrente de métodos de ensino inadequados.

O processo de aprender, de interrogar, de se sentir capaz motiva o aluno; em contrapartida, a realidade das repetências, exposição diante dos colegas e o sentimento de incapacidade coíbem o processo de aprendizagem e reforçam a prática da exclusão.

2  CONCEPÇÕES DE LEITURA.

O homem utiliza a leitura a todo o momento, de diversas formas e em praticamente todas as situações. O mundo globalizado possibilita acesso à informação e a leitura é um dos meios mais eficazes para a obtenção dessas informações.

Faz-se necessário, todavia, destacar que a prática da leitura não pode ser simplificada a algo simples e fácil; pelo contrário, há uma série de fatores envolvidos nesse processo, como a visão de mundo do indivíduo-leitor, seus conhecimentos prévios, sua capacidade de estabelecer conexões e fazer inferências, dentre outros. Boff (1998, p. 9) destaca um desses aspectos:

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiência tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é com autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.

O hábito da leitura é um dos mais importantes para o desenvolvimento do intelecto e também o caminho mais curto para adquirir conhecimento. A leitura traz consigo o individual de cada ser, a interpretação se apresenta de variados modos, sendo ela o norteio do entendimento.

Seguem, abaixo, algumas concepções de leitura, de acordo com as definições de Orlandi (2005):

A primeira concepção se relaciona à aprendizagem formal, quando o aluno aprende o processo de “ler e escrever” –  Alfabetização. A segunda concepção se refere à estrutura mental que permite ao homem realizar o ato da leitura, trata-se de um esquema cognitivo que assimila os dados e informações visuais e/ou não visuais que estão diante dos olhos. A terceira está intimamente ligada às estratégias e técnicas para desenvolver a ação de ler, ou seja, possuir técnicas e desenvolver estratégias metodológicas que melhorem um contato entre leitor e texto. Por fim, a quarta concepção trata de atribuir sentidos ao texto, inferir conhecimentos prévios para compreender gêneros textuais em seus contextos e buscar seus intertextos.

Ler é compreender, pois a leitura não se efetiva sem compreensão, como declaram os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental II (1998):

A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seus conhecimentos sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificação letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. (BRASIL, 1998, p.69-70.)  

A leitura é um dos processos mais importantes da formação do aluno, pois através dela fica claro o desenvolvimento do aprendizado dos estudantes. A prática da leitura estimula o bom funcionamento da memória, aprimora as capacidades interpretativas e proporciona um conhecimento amplo e diversificado sobre variados assuntos, contribuindo para a formação de leitores mais eficientes, capazes de promover relações entre textos lidos e ultrapassar o nível meramente lingüístico do texto, como enfatiza Lajolo (1991, p. 59): 

Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista.

Ou seja, o bom leitor ativa uma bagagem de conhecimentos que lhe possibilitam o diálogo com textos diversos e a elaboração de opiniões bem fundamentadas, o que colabora para a formação de leitores competentes, cidadãos críticos, responsáveis e agentes transformadores.

A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que o individuo enriquece o seu vocabulário, constrói conhecimento, dinamiza o raciocínio e a interpretação. O homem a exercita diariamente através do contato com placas, jornais, programas de TV, livros, panfletos, folders, dentre outras formas de texto. Assim, pode-se afirmar que a leitura é muito importante no processo de ensino- aprendizagem e construção de conhecimentos se precedida de uma compreensão efetiva do que foi lido, visto que possibilita ao leitor o alcance de significações amplas e profundas em relação às intenções do produtor do texto. De acordo com Schneider (1990, p. 16):

Soletrar, decodificar palavras ou frases não chega a ser leitura, se esse processo de decodificação não for acompanhado da compreensão do significado veiculado por meio de elementos ou estruturas lingüísticas. A leitura vai muito mais além. Trata de um processo ativo de construção de sentidos que envolve fatores lingüísticos e extralingüísticos e possibilita uma interação e troca de informações entre o leitor e as características pertencentes ao texto, que resulta na compreensão efetiva e ampla do texto.

A leitura atua como ferramenta indispensável na formação de leitores reflexivos, críticos e capacitados para se posicionarem diante do mundo através de suas habilidades de expressão das ideias.

A compreensão de um dado texto de forma ampla estabelece a interpretação entre as relações textuais, contextuais e intertextuais.

Um conjunto de fatores interligados contribui para que o leitor consiga compreender um texto, associá-lo à realidade, posicionar-se construtivamente e interagir nas relações comunicativas.

O conhecimento prévio, os objetivos, anseios, expectativas do leitor em relação ao texto e as estratégias desenvolvidas para processamento do mesmo são fatores importantíssimos para o favorecimento da compreensão textual.

3 A ESCOLA COMO ESPAÇO CONSTITUTIVO DO SUJEITO LEITOR E CONSTRUTOR DE CONHECIMENTOS, FOCALIZANDO O PLANEJAMENTO.

Um problema constante e bastante pertinente no processo de ensino- aprendizagem é a dificuldade que o educando apresenta de ler e realizar uma interpretação concebida nas entrelinhas, e compreender de forma crítica os implícitos, as intertextualidades e ambiguidades das ideias presentes nos textos.

 Os alunos leem e pouco compreendem porque não estão sendo preparados e tão pouco estimulados a desenvolverem uma prática de leitura e como consequência não conseguem interpretar gêneros textuais diversos. O sistema educacional na maioria das vezes não desenvolve uma prática de leitura que desperte e cultive o desejo de ler.

A formação de leitores eficientes é uma problemática da escola brasileira, trazendo consigo uma grande preocupação para a educação de um modo geral, uma vez que ser leitor é compreender situações para a formação cultural do indivíduo, ou seja, “[…] é condição para a verdadeira ação cultural que deve ser implementada nas escolas” (SILVA, 1991, p.79-80).

A escola, muitas vezes, ainda entende o aluno como um sujeito que deve absorver e decorar conteúdos e acaba se esquecendo de desenvolver um trabalho focado na formação de leitores críticos e conscientes, capazes de ler e interpretar a realidade, ou seja, cidadãos capazes de “ler o mundo”: a princípio, o seu mundo e posteriormente todos os mundos possíveis, como afirma Koch (1984), baseada nas ideias freireanas. Sobre o papel da escola na formação desse cidadão crítico, Libâneo (2002, p. 26-27) afirma:

A escola precisa deixar de ser meramente uma agência transmissora de informação e transformar-se num lugar de análises críticas e produção da informação, onde o conhecimento possibilita a atribuição de significado à informação. Nessa escola, os alunos aprendem a buscar a informação (nas aulas, no livro didático, na TV, no rádio, no jornal, nos vídeos, no computador etc.), e os elementos cognitivos para analisá-la criticamente e darem a ela um significado pessoal. (LIBÂNEO, 2002, p.26-27.)

A escola tem de ser um ambiente onde se aprende com qualidade, havendo, portanto, necessidade cada vez maior de contar com profissionais comprometidos e competentes. O professor, como articulador da educação, deve estar atento, tendo  uma visão ampla da realidade do alunado, permitindo uma visão ampla de todo o contexto escolar, principalmente no gerenciamento do seus alunos, numa visão democrática, inclusiva e analítica, de forma que o conhecimento e a convivência norteiem sua prática pedagógica. Acerca desse papel de incentivadora da prática de leitura que a escola deve ter, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1998, p. 17) afirmam:

[…] para tornar os alunos bons leitores, para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura, a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler e a ler para aprender, requer esforços. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los confiantes, condição para poderem se desafiar a aprender fazendo. Uma prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.

As problemáticas vivenciadas no âmbito escolar são motivos de discussão e preocupação da sociedade, surge, portanto, a necessidade de renovar e reciclar as práticas pedagógicas das instituições escolares, transformando–as em um espaço coletivo, capaz de vencer os obstáculos, dificuldades e contribuir com o processo intenso de formação de homens capazes de ler e compreender o “mundo” e, sobretudo, exercer a cidadania de forma consciente e responsável.

De acordo com Rojo (2002, p. 04), a concepção de leitura praticada na escola que muitos alunos têm é “ler em voz alta, sozinhos ou em jogral (para avaliação de fluência entendida como compreensão) e, em seguida, responder um questionário onde se deve localizar e copiar informações do texto (para avaliação de compreensão)”. Ou seja, a autora salienta que “poucas e as mais básicas das capacidades leitoras têm sido ensinadas, avaliadas e cobradas pela escola. Todas as outras são ignoradas.”

A escola não pode ser compreendida como a dona do saber. Ela deve, a partir do trabalho do professor, assumir a postura de desenvolver a capacidade de seus usuários, o compromisso e a responsabilidade de se organizar em torno de um projeto educativo comprometido e eficiente, de maneira que seja desenvolvido um trabalho voltado para a formação de alunos que sejam capazes de exercer sua cidadania, compreendendo criticamente as realidades sociais desenvolvidas nas diversas situações comunicativas. Esse projeto terá êxito com o apoio, essencialmente, de um planejamento flexível e objetivo da melhoria das práticas de leitura e escrita, como salienta Veiga:

Na dimensão pedagógica reside a possibilidade de efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação de cidadão participativo, responsável, compromissado, critico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 1995 pg69)

A instituição escolar deve atuar e trabalhar com o objetivo de formar alunos capazes de exercer a sua cidadania, compreendendo o aluno de forma crítica, relacionando o ambiente de ensino às realidades sociais, de maneira que consiga interagir nas diversificadas situações comunicativas.

De acordo com Moura (2001), a escola deve criar situações nas quais o aluno amplie o domínio ativo nas diversas situações comunicativas, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania.

O ambiente escolar tem que se apresentar como um local prazeroso, trazendo consigo atividades e práticas pedagógicas que vêm ao encontro das realidade educacionais, atentando para a realidade de cada educando.

O planejamento é uma ferramenta essencial e bastante relevante no processo de ensino-aprendizagem e construção de conhecimentos. O mesmo deve estar focado em uma ação integradora entre a escola e o contexto social, envolvendo a integração do professor e aluno com o meio social, econômico, político, cultural e também elementos escolares, tais como: objetivos, conteúdos, métodos, para que assim o aluno desempenhe melhor, atinja os objetivos propostos e, sobretudo, tenha um ensino de qualidade.

O planejamento educativo deve ser assumido no cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais do que preencher um papel com alguns requisitos: conteúdo, objetivos gerais, objetivos específicos…  é uma atitude que envolve todas as ações e situações do educador no dia-a-dia do seu trabalho pedagógico. O planejamento deve ser compreendido como atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro pra empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para o aluno. (OSTETTO, 2000). Planejamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu trabalho.

O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de empregos de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas a partir dos resultados das avaliações (PADILHA, 2001, p.30)

O educador e a escola são peças extremamente importantes na execução de um projeto educativo comprometido, eficiente e voltado para a formação do ser humano que seja capaz de exercer sua cidadania, compreender criticamente as realidades sociais e interagir nas diversas situações comunicativas.

O Projeto Político Pedagógico visa ao desenvolvimento de uma gestão democrática de forma coletiva, buscando atingir os objetivos propostos, em que todos os integrantes da comunidade escolar trabalham em equipe para desenvolver práticas de organização e reorganização do fazer cotidiano, com objetivos claros, dialogando e incentivando posturas de comprometimento de todos os envolvidos. 

O planejamento deve ser uma ferramenta atuante no cotidiano escolar do professor e do aluno e ter dentre um dos seus objetivos o de orientar uma ação integradora entre a escola e o contexto social, verificando a possibilidade de modificar a realidade e seus distintos contextos, abordando uma prática paciente utilizando de estratégias eficientes para o sucesso do aprendizado.

As atividades desenvolvidas na sala de aula devem ser planejadas e condizentes com a realidade do alunado, respeitando suas particularidades e suas necessidades como alunos e, sobretudo, como seres humanos capazes de exercer o  papel de cidadão, capazes de “ler o mundo” criticamente, tentando contribuir para a transformação de uma sociedade mais justa e igualitária. 

4 O EDUCADOR COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE.

O educador tem um papel muito importante na ampliação da compreensão do ato de ler, visto que é responsável por apresentar ao educando as inúmeras formas de estabelecer significados com relação ao texto.

As atuais políticas educacionais têm focado e discutido de forma bastante pertinente o papel dos educadores no processo de ensino aprendizagem.

A Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996) descreve e compreende o educador como docente que tem a capacidade de intervir na prática educativa, uma vez que a sua responsabilidade e compromisso no que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem se dá desde o planejamento à avaliação.

O professor deve ser um agente de transformação que favorece e estimula o desenvolvimento da capacidade de compreensão e interpretação do aluno, para que, dessa maneira, o discente consiga ler e compreender as realidades e o mundo e se posicionar de tal forma que seja capaz de criar e recriar as situações diversas. Acerca desse papel do docente, Vasconcellos (2003, p.102) salienta:

É enorme a responsabilidade e o poder do professor, por favorecer o acesso a ideias, imagens, representações, conceitos, valores, bem como a fazer a crítica (desmonte, deslegitimarão) de ideias dadas e, sobretudo, favorecer o desenvolvimento da capacidade de criar outras ideias e planos de ação que sejam mais libertadores.

Ensinar é uma tarefa que estar acima de desenvolver um trabalho com o conteúdo em si, refere-se a criar condições favoráveis para que o aluno consiga aprender criticamente, como afirma Freire (1998, p.29):

Ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educando criadores, instigadores, inquietos rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. […] nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente do saber ensinado, em que o objetivo ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, apreendido pelos seus alunos.

Para que a aprendizagem por parte dos alunos tenha um aproveitamento intenso e construtivo, é necessário que o professor e o sistema educacional entendam a sala de aula como um lugar interativo, onde aluno e professor atuem como sujeitos participantes e ativos no processo contínuo de construção de saberes. É importante que a educação se comprometa com a realidade, com a história de vida desses alunos.

O educador tem o papel de mediador, tendo em vista que uma das suas funções é ensinar o educando a aprender a pensar de forma consciente e crítica, de maneira tal que o mesmo consiga compreender, construir sentido e conhecimentos a partir das leituras das realidades, contextos e “mundos”.

A função do educador se concretizará e surtirá efeitos positivos quando o sistema educacional substituir o modelo de ensino que entende a aprendizagem como transmissão e acúmulo de conhecimentos por um ensino comprometido com a formação de alunos aptos e capazes de exercerem plenamente a sua cidadania, compreendendo criticamente as realidades sociais e aplicando os saberes aprendidos às situações que vivencia.

O papel do professor comprometido com um projeto pedagógico eficiente é muito importante para a construção de um futuro melhor para a educação brasileira. De acordo com Gadotti (1998, p. 90):

Ao novo educador compete refazer a educação, reinventá-la, criar as condições objetivas para que uma educação realmente democrática seja possível, criar uma alternativa pedagógica que favoreça o aparecimento de um novo tipo de pessoas solidárias, preocupadas em superar o individualismo criado pela exploração do trabalho. Esse novo projeto, essa nova alternativa, não poderá ser elaborado nos gabinetes dos tecnoburocratas da educação. Não virá em forma de lei nem reforma. Se ela for possível amanhã é somente porque, hoje, ela está sendo pensada pelos educadores que se reeducam juntos.

O professor tem, portanto, a função de possibilitar ao aluno as mais variadas formas de aprendizagem, aplicando métodos que se adequem à sua realidade, atentando-se, ainda, a um projeto pedagógico que instigue as práticas de ensino e amor pela leitura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de educação do Brasil aponta um altíssimo número em relação ao analfabetismo, dados demonstram que a leitura é um valioso instrumento para a formação de pessoas críticas e que sejam capazes de conviver e interagir com a atual sociedade globalizada, entretanto na conclusão da pesquisa fica claro que o hábito da leitura tem se perdido dentro das salas de aula brasileiras. Fica perceptivo a falência dos métodos para efetivação e evolução do estudante. O acesso ao aprendizado da leitura apresenta-se como um dos múltiplos desafios apresentados à comunidade escolar.

A leitura é pouco explorada na sala de aula, o que contribui para dificultar que o aluno seja capaz de ler e realizar uma interpretação concebida nas entrelinhas, compreender de forma crítica os implícitos, as intertextualidades e ambiguidades das ideias presentes nos textos e interagir nas diversas situações comunicativas. No entanto, é necessário que a escola, aliada ao professor, desenvolva um trabalho significativo e responsável, tendo como base um projeto educativo comprometido, eficiente, flexível e ao mesmo tempo preocupado com as necessidades e particularidades dos seus usuários.

Desta maneira, as práticas de leitura nas instituições escolares devem surgir por meio de um planejamento pedagógico envolvente, que incorpore, no seu percurso de execução, as necessidades, as inquietações e os desejos dos alunos-leitores. Simplesmente “mandar o aluno ler” é bem diferente de envolvê-lo significativa e democraticamente nas situações de leitura, a partir de temas em destaque. (SILVA, 1991).

É imprescindível que haja mudanças no processo de aprendizagem da leitura, a partir da adoção de métodos, planejamento e projeto pedagógicos atuais que atrelem a realidade do aluno ao trabalho pedagógico. É necessário capacitar o profissional da educação, mostrando-lhe sua responsabilidade e papel formador, para que perceba sua importância no ato de provocar o discente e instigá-lo à curiosidade, promovendo uma visão de que o mundo da leitura extrapola o ambiente da escolarização, fazendo com que cada um se torne mestre do próprio olhar que tem sobre o mundo através do conhecimento.

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