Irmã da cantora gospel Sara Mariano chega a Salvador para reconhecer e liberar corpo

Para Marcus Rodrigues, a segunda-feira (30) será um dia decisivo para as investigações do caso. O advogado disse que “pessoas que estavam sendo ouvidas como testemunhas passam a ser ouvidas como partícipes, como autoras do fato criminoso”.

“A autoridade policial deverá voltar a ouvir outras pessoas para estar colocando, se necessário, dentro desse fato criminoso. Temos certeza que não foi somente Ederlan Mariano quem praticou esse crime, creio que tenha pelo menos mais duas pessoas [envolvidas]. Então, acredito que a partir de segunda-feira, vai ter episódio novo, vai ser um dia importante”.

Neste domingo, Euvaldo Costa, delegado responsável pelas investigações, disse ao g1 que a polícia investiga “um crime de múltiplas pessoas”, mas ainda não é possível dizer quantos e quem são os autores.

Também no sábado, o dono do carro em que a cantora foi vista pela última vez com vida esteve voluntariamente na delegacia e entregou o automóvel para ser periciado. O responsável foi intimado para prestar depoimento nos próximos dias.

O dono do veículo é o empresário Hugo Ricardo Cora, também conhecido na comunidade religiosa como “Apóstolo Hugo”. Ele disse que, no momento em que a vítima foi transportada, o automóvel estava emprestado.

Hugo contou à polícia que não gosta de emprestar carro, contudo, o entregou a um vizinho identificado pelo prenome de Gideão, após muita insistência.

“Ele chegou pedindo o carro emprestado, eu disse: ‘não empresto o carro, eu já tive problema, então não empresto’. Aí ele pediu ‘por favor, por favor’ para emprestar, que era rápido, para ele fazer uma ‘correria’ porque o carro dele tinha quebrado e precisava um pegar passageiro, porque ele é motorista de aplicativo. Eu disse: ‘está bem, mas não demore'”.

Depois que Gideão entregou o carro a Hugo, ele conferiu todo o veículo e observou que o veículo estava da mesma forma que antes.

“O carro estava inteiro, não vi nada demais. Aí hoje pela manhã, o ex-proprietário do carro me ligou dizendo: ‘Hugo, você emprestou o carro para alguém?’. Aí ele me disse: ‘Rapaz, [a foto dele] está em tudo quanto é aplicativo. Aí me mandou a foto. Quando olhei, eu disse: ‘é meu carro’. Aí eu peguei o carro e fui atrás da polícia”.

Gideão também foi encaminhado por policiais para a Delegacia de Dias D’Ávila na tarde de sábado, para prestar depoimento, e foi liberado em seguida, conforme o delegado. Ainda não há confirmação policial de que Gideão é suspeito de envolvimento com o crime.

Premeditação do crime

Apesar de ter dado poucas informações sobre o caso, para não atrapalhar as investigações, o delegado Euvaldo Costa detalhou que o crime foi premeditado há pelo menos um mês, quando o casal teria passado por um suposto desentendimento. Questionado sobre o que motivou o ataque, ele ponderou.

“O que posso dizer é que há uma forte vertente de conflito familiar com o autor, mas a gente não pode cravar nenhuma motivação sem chegar a todos os autores. Ela era uma artista, era do mundo artístico, havia muitos interesses comerciais, então pode ter outras questões por aí. Ainda estamos investigando, tudo é prematuro de ser afirmar”.

A versão da premeditação também é sustentada pelo advogado da família de Sara, Marcus Rodrigues. Neste domingo, ele disse que a religiosa era “vítima de um relacionamento tóxico e perdurou nesse cenário durante bastante tempo”.

“Acreditamos que esse fato criminosos foi totalmente premeditado, desde o interesse dele na compra por uma arma de fogo, passando por todas as violências que a Sara já vinha sofrendo há muito tempo. A violência física era cotidiana. Ele a estuprava, forçava [Sara] a ter relações sexuais”, apontou.

O advogado também mencionou, novamente, o áudio que Sara gravou para a irmã, Soraia Correia, em que a vítima dá a entender que o marido é uma pessoa nervosa, de temperamento instável e que queria comprar um revólver.

“O áudio corrobora que ele já vinha premeditando o fato. O momento em que, de forma repentina Sara visualiza que ele tem esse contato com a pessoa que era envolvida com o tráfico de drogas, para compra uma arma, já deixa claro para todos nós que ele estava premeditando esse crime bárbaro”, pontuou Marcus.

Ederlan foi detido temporariamente, porque a polícia apontou que houve clara intenção dele “em destruir as possíveis provas que estavam armazenadas no celular da vitima e prejudicar as investigações dos fatos, bem como impedir a aplicação da lei pena”.

“Ela acabava confidenciando muitas coisas sigilosas para a mãe, mas infelizmente o acusado tinha acesso ao celular dela, através de um programa tipo ‘hacker’. Ele acabou distruindo provas que seriam essenciais para a investigação. Sara mandava mensagem para a mãe já com medo de ele ver, mas não imaginava que ele já estava tendo acesso ao conteúdo através do icloud e desse programa”, comentou o advogado.

Sara deixou uma filha de 11 anos, fruto do relacionamento de 13 anos com Ederlan. Conforme a Polícia Civil, a menina está sob os cuidados dos avós paternos. A família materna já manifestou publicamente interesse em criar a garota, porém, a tutela deverá ser definida pela Vara da Infância e da Juventude.

“A família está destroçada. Eu ainda não tive contato com a filha, que é uma das maiores vítimas também. Estamos aguardando ansiosamente a chegada da mãe [de Sara], para a gente dar continuidade e fazer com que a justiça seja feita”, disse Marcus.

Histórico

Sara Mariano foi vista pela última vez com vida na noite de terça-feira (24), ao deixar a casa onde vivia no bairro de Valéria, em Salvador. Na ocasião, Ederlan Mariano registrou boletim de ocorrência pelo desaparecimento da esposa, e afirmou que ela tinha saído para eventos religiosos, mas alegou não saber quais.

Ele disse ainda à polícia que uma câmera de segurança flagrou o momento em que Sara deixou a residência e entrou em um carro, mas que não sabia quem era o motorista que a levou. Ederlan chegou a pedir para que as pessoas o ajudassem a descobrir onde a esposa estava.

Em um dos dias em que esteve na delegacia para conversar com policiais sobre o paradeiro da mulher, Ederlan foi perguntado por um jornalista sobre uma suposta campanha de arrecadação que ele teria feito nas redes sociais, para ajudar a procurar a companheira, contudo, abandonou a entrevista.

Na tarde de sexta-feira (27), três dias após o desaparecimento, o corpo de uma mulher foi encontrado carbonizado em uma área de mata às margens da BA-093, na região de Dias D’Ávila, cidade da região metropolitana de Salvador. Para a Polícia Civil, Ederlan reconheceu que se tratava de Sara, já que um anel e a sandália dela foram encontrados próximo ao cadáver.

Antes de confessar o crime à polícia, ele foi às redes sociais para lamentar o desaparecimento da esposa e pedir ajuda às pessoas que tivessem informações sobre ela. Ederlan também relatou que não havia tido brigas recentes com Sara.

Fonte: g1 Bahia